26.8.13

Entrevista com Bernard Bourgeois: Um alquimista da imagem em Búzios


Um alquimista da imagem 


Victor Viana/ Camila Raupp/ Amanda Raupp e Caroline 

O jornal A Raza teve a honra de entrevistar o fotógrafo belga, que mora há três anos em Búzios, Bernard Bourgeois: Junto com sua esposa, a mineira Sandra Penna, nos encontrou com muita simpatia na Padaria Golden Bread no Porto da Barra.

 ( Junto a entrevista segue algumas fotografias desse grande artista )

O Senhor é um fotografo reconhecido internacionalmente, ganhador de diversos prêmios, um cidadão do mundo. O que o trouxe ao Brasil e a Búzios?

Bernard Bourgeois: Búzios é vida. Quando decidimos deixar Belo Horizonte, a primeira coisa que minha esposa pensou foi vir morar em Búzios, ela sempre amou Búzios. Viemos e decidimos ficar e estamos aqui há dois anos.

Sentiram muita diferença de Belo Horizonte para Búzios?

Bernard Bourgeois: É bem diferente, Belo Horizonte é uma cidade grande, e Búzios é bem menor. Quando você é um estrangeiro em Belo Horizonte, você é próximo do brasileiro, quando você é um estrangeiro em Búzios, você é um turista traz dinheiro, bem mais difícil de encontrar pessoas e fazer amigos.

Morando em Búzios o senhor se sente como um estrangeiro que está muito longe da sua cultura, ou o fato de outros estrangeiros morarem aqui ameniza essa distância?

Bernard Bourgeois: Sinto-me mais próximo dos brasileiros do que dos estrangeiros, gosto muito mais dos brasileiros, acho que os brasileiros são pessoas muito boas, simpáticas até 33 graus, acima de 33 graus e nas ruas e nas estradas elas deixam de ser simpáticos. (risos)


O que exatamente te fez vir para o Brasil e permanecer?

Bernard Bourgeois: Na minha vida eu viajei muito, a trabalho e a diversão. Sempre gostei de mudar, de deixar a Europa. A Europa pode parecer, vista daqui, um Paraiso.  Mas na verdade é muito difícil para uma pessoa que não é um conformista.

 Você tem vontade de retornar para a Europa, ou pretende viver sua vida no Brasil ou em outro país?
Bernard Bourgeois: Eu preciso voltar a Europa três vezes ao ano, porque sou professor. Mas pretendo passar a minha vida com a minha esposa em Búzios.

Você se considera um artista?

Bernard Bourgeois: Na história um artista já foi um artesão, ou melhor, o artesão se tornou um artista. Hoje é um pouco diferente, você tem um artesão fotográfico e você tem um artista fotográfico. Eu sou um artesão, não sou um artista, eu preciso estudar, preciso trabalhar, eu preciso aprender a cada dia as novas técnicas para fazer o melhor do trabalho.

Mas o senhor concorda que suas fotografias tem um diferencial muito grande em relação à produção fotográfica comum?

 Bernard Bourgeois: Eu não tinha percebido isso, até que minha esposa e depois o meu filho disseram que eu faço mais que um fotógrafo comum. Como fotógrafo presto um serviço, um negócio como todas as pessoas daqui.  Posso trabalhar para uma pousada, posso trabalhar para uma lanchonete, um casamento, um book. Penso que é importante fazer o melhor trabalho para as pessoas.

O que o senhor acha hoje do photoshop, o  senhor acha que é um recurso ou um vilão?


Bernard Bourgeois: Sem photoshop hoje não teria como ser fotógrafo.  Fui fotógrafo quando jovem, não existia photoshop e eu ganhei o primeiro prêmio para um concurso muito importante na época. Fiz exposições na Alemanha, na Bélgica, França.  Gosto muito de trabalhar no laboratório, gostaria de fazer como na antiga fotografia. Eu continuei a tirar retratos, porque ganhei uma boa reputação para fazer retratos de pessoas, foi muito importante e depois a fotografia mudou muito. Primeiro foi uma técnica, depois ela foi química e agora se torna eletrônica.   Descobri com o Photoshop uma ferramenta, eu conseguia fazer coisas que eu quis por toda minha vida: desenhar, pintar e que eu não podia fazer porque não tenho esse talento, não tenho “mão”, com o photoshop temos o cérebro e me adaptei bem ao programa.

Chegou a trabalhar como repórter fotográfico?

Bernard Bourgeois: Não. Trabalhei com jornalismo, mas como editor.  Ser fotógrafo e ser repórter fotográfico são coisas diferentes. Eu ganhei um premio importante na França que fica no museu de arquitetura - d’Orsay - em Paris.

 Quem o senhor admira como fotógrafo no Brasil?

Bernard Bourgeois: No Brasil Sebastião Salgado, porque no Brasil eu senti que a arte é elitista. A obra dele é muito acessível ao público, é uma arte que faz as pessoas pensarem e ficarem felizes.

Podemos observar em suas fotos atuais que o senhor tem se preocupado em fotografar o cotidiano buziano, o povo.  É isso? 

Bernard Bourgeois: Sim, eu gosto. Eu recebi um prêmio de um amigo do povo de Búzios. Eu tirei uma foto na colônia dos pescadores de um pescador de 83 anos que ganhou a corrida de remo na Festa de São Pedro e dei para o seu filho, esse pai chorou quando recebeu a foto, pois foi o registro de sua vida magnifica.

Gostaríamos de aproveitar agora e entrar na parte do senhor como admirador da poesia, já que sua fotografia tem tanta expressão poética. Sabemos que o senhor gosta de poesias e que tem uma frase interessante em que diz que um homem pode tirar uma foto com o celular, fazer um poema precisa um pouco mais, precisa de cérebro, coração ou barriga. O que quis dizer exatamente com isso? 

Bernard Bourgeois: Sim, acho que falei mal no português ( risos). Eu quis dizer que muitas pessoas gostam do que eu escrevo. São amigas como Cristiana Guinle, que vocês conhecem, são pessoas que falam bem dos meus poemas, que são intelectuais. Quando você tem amigos que de verdade são artistas isso me faz pensar, mas eu não procurei isso. Sou amigo do Jaguar também. Algumas pessoas me perguntam; como você é amigo do Jaguar? Tenho muito uma rede muito boa de amigos. Mas minha esposa é uma grande poetisa. Mas eu não posso escrever em português, é muito difícil, meus poemas são fotográficos.
O senhor é sempre tão modesto?

Bernard Bourgeois: Há um mês recebi mensagens muito estranhas, como se eu fosse um jogador de futebol famoso (Risos). Recebi poema de mulher, poema de homem e frases que minha esposa não gostou, dizendo sobre minhas fotos serem poemas e que transmitem uma mensagem de paz
 O senhor tem alguma exposição de sua obra agendada na cidade?



O senhor disse que vai a Europa três vezes ao ano porque é professor, o senhor leciona que matéria na Europa?

Bernard Bourgeois: Muito diferente do que faço aqui, lá vou falar de comunicação.

O senhor trabalha lá dando aula em faculdade, instituto...

Na verdade antes fui professor de direito. Na Bélgica hoje sou professor de um sindicato, para pessoas que vão se tornar dirigentes de sindicato e empresas.

 O senhor falou que tem filhos, são brasileiros?

Bernard Bourgeois: Não, são europeus. Tenho dois filhos, o primeiro vai trabalhar no Peru, em uma ONG, vai coordenar atividades escolares de mil crianças de rua com sua esposa. O segundo tornou-se fotógrafo, vai morar na França e trabalhar lá. Acho que será muito difícil. Manter-se como fotografo não é fácil em qualquer lugar do mundo.

 O que você acha dos paparazzi?

Bernard Bourgeois: São vigaristas. Li uma tese em que dizia que o tempo durante a foto da atualidade tem um valor e uma foto de um evento de pessoas tem outro. Porque as pessoas acham que você não trabalhou, posso trabalhar numa foto seis meses e um paparazzi dois minutos, mas as pessoas dão mais valor ao trabalho do paparazzi. É quase impossível de explicar um trabalho importante. Uma foto minha tem um valor, e o material fotográfico custa muito caro, No Brasil tem IPI, e quando você vai vender uma foto você não tem IPI, é quase impossível viver da fotografia, é muito caro.

O que  o senhor acha do Brasil?

Bernard Bourgeois: Um lugar maravilhoso, mas  os brasileiros zombam demais de seus políticos, zombam demais de seu país. Você pode até falar de um problema, pode publicar o problema em um jornal, é muito importante, mas também precisa mostrar a solução. Eu gostaria de ver um Brasil mais orgulhoso de ser brasileiro.

 O senhor  morou  na  Raza. Conhece a historia dessa região tão importante da cidade de Búzios?

Bernard Bourgeois: A Raza é o coração de Búzios e as pessoas não sabem. Não sei se eu entendi bem, eu entendi que existe um desejo de emancipação de diferentes bairros, eu entendi que a Maria Joaquina gostaria de se emancipar de Cabo Frio,  porque é um bairro abandonado. Na historia da cidade eu vi que Búzios – inclusive vi em fotos antigas no jornal de vocês- onde diz só Búzios sem Tamoios. É preciso que se descubra rápido como fazer para guardar suas raízes. Sobre isso tenho muito a elogiar o jornal A Raza, na Europa como aqui, as pessoas gostam de jornais que mostrem desgraças, imagino que seja difícil fazer um jornalismo como o que vocês estão fazendo. 


Entrevista publicada originalmente na última edição impressa do Jornal A Raza em 2012. 

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