3.1.13

A aldeia de Búzios: A fundação.

Praia do Canto, 1960, Búzios Antigo, Acervo Museu Brigite Bardot,
José Ninguém  - fundador do Búzios -  ignorava por completo a geografia da região. Sabia que para o Oriente estava a serra impenetrável, e do outro lado da serra a antiga cidade do Cabo Frio, onde em épocas passadas - segundo lhe havia contado o primeiro José Ninguém  seu avô - Sir Francis Drake era dado ao esporte de caçar jacarés a tiros de canhão. Os bichos eram depois remendados, recheados de palha e mandados para Dom João, em Portugal.

Na sua juventude, ele e seus homens, com mulheres e crianças e animais e toda espécie de utensílios domésticos, atravessaram a serra procurando uma saída para o mar, e ao fim de vinte e seis meses desistiram da empresa e fundaram Búzios, para não ter que empreender o caminho de volta. Era, pois, uma rota que não lhe interessava, porque só podia conduzi-lo ao passado.

Ao Sul estavam os charcos cobertos de uma eterna nata vegetal, e o vasto universo do grande pantanal, que, segundo testemunho dos ciganos, carecia de limites. O grande pantanal se confundia ao Ocidente com uma extensão aquática sem horizontes, onde havia cetáceos de pele delicada, cabeça e torso de mulher, que perdiam os navegantes com o feitiço das suas tetas descomunais.

 Os ciganos navegavam seis meses por essa rota antes de alcançar a faixa de terra firme por onde passavam as mulas do correio. De acordo com os cálculos de José Ninguém, a única possibilidade de contato com a civilização era a rota do Norte. De modo que dotou de foices, facões e armas de caça os mesmos homens que o acompanharam na fundação de Búzios; pôs numa mochila os seus instrumentos de orientação e os seus mapas, e empreendeu a temerária aventura.

Texto adaptado do classico 100 anos de solidão de Gabriel Garcia Marques 

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