'Ária' traz versões de 'Palco' e 'Fly me to the moon', entre outras canções.
Cantor diz que gostaria de ver Chico Buarque e Prince no Rock in Rio 2011.
São 34 anos de carreira e mais de 20 discos gravados. Eclético, já transitou por gêneros como o samba, o jazz e a valsa. Gravou com artistas como Chico Buarque, Stevie Wonder e o violonista espanhol Paco de Lucía. Chegou até mesmo a se arriscar como ator no filme "Para viver um grande amor", musical dirigido por Miguel Faria Júnior em 1983. Mas, apesar dos tantos caminhos percorridos, ainda faltava um desafio para o cantor e compositor alagoano Djavan: um trabalho como intérprete.
"Foi uma dificuldade. Mas a dificuldade me move", declarou o músico sobre "Ária", lançamento que reúne versões para 12 canções selecionadas seguindo critérios distintos.
"Há reminiscências da infância e da adolescência, coisas que cantava na época em que era crooner de boate", diz Djavan sobre o repertório, que inclui "Oração ao tempo" (Cateano Veloso), "Treze de dezembro" (Luiz Gonzaga e Zé Dantas), "Disfarça e chora" (Cartola e Dalmo Castelo) e "Fly me to the moon" (Barth Howard), famosa na voz de Frank Sinatra.
Com arranjos debruçados sobre o violão do próprio compositor, o álbum traz ainda o baixista André Vasconcellos, os percussionistas Marco Lobo e Marcos Suzano e o guitarrista Torcuato Mariano.
Em entrevista exclusiva ao G1, Djavan conta detalhes por trás da produção de "Ária", explica como será a turnê que tem início em São Paulo, com shows no Credicard Hall dias 24 e 25 de setembro, e cita Chico Buarque e Prince como alguns dos artistas que gostaria de assistir na próxima edição brasileira do Rock in Rio, marcada para o ano que vem.
— Você sempre gravou canções de outros compositores em deus discos, caso de "Coração leviano", de Paulinho da Viola, e "Correnteza", de Luiz Bonfá e Tom Jobim. Por que só agora você decidiu por um disco inteiramente como intérprete?
Djavan — Só agora foi possível. É difícil para um músico como eu, que tem o hábito de compor desde os 18 anos, suspender tudo unicamente para se dedicar a um disco assim. E também dá uma certa insegurança, pois é diferente. Tenho controle absoluto sobre meus discos autorais, pois faço a letra, a música, canto, toco, arranjo e produzo, mesmo sendo um trabalho gigantesco. Mas não acho que tenha sido assim desta vez. Por isso, o disco de intérprete foi uma dificuldade. Mas a dificuldade me move.
— De que forma os arranjos foram pensados?
Djavan — Defini a sonoridade do disco antes mesmo de começar a gravá-lo e escolhi uma instrumentação improvável: baixo acústico, percussão, violão e guitarra. Nunca imaginei que fosse fazer um disco sem bateria. Trabalhar com uma instrumentação parca dá mais trabalho, porque você tem que ser mais preciso e definitivo nas idéias. Por causa disso, o processo de gravação foi diferente. Em geral, a cronologia é a seguinte: primeiro a gente grava baixo e bateria, que é a base da maior parte das canções. Depois, vem os teclados ou o piano, seguido pelos arranjos de metais ou cordas, se houver. E, por último, a voz. Desta vez gravei violão e voz primeiro, em definitivo, que acabou se transformando na base. Isso veio de um desejo meu de buscar outros caminhos, outras texturas, e de correr riscos.
— Qual foi o critério para a escolha do repertório?
Djavan — Foram vários os critérios. Tem coisas que são reminiscências de infância, da adolescência e da época em que eu trabalhava cantando na noite. A música “Sabes mentir”, de Othon Russo, por exemplo. Aprendi aos 6 anos, quando minha mãe cantava a versão de Ângela Maria. “Brigas nunca mais”, de Tom e Vinícius, veio da época em que eu trabalhava como crooner em boates. “Nada a nos separar”, de Wayne Shanklin, vem da minha adolescência, pois eu amava a voz da Evinha, cantora do Trio Esperança, que a gravou na época. Já “Fly me to the moon” e “Palco” são duas das músicas do disco mais conhecidas, mais batidas, mais clássicas. Incluí exatamente para tentar refrescá-las. Porque é difícil fazer algo novo com uma canção como "Palco”, por exemplo, que já tem uma versão tão definitiva com Gil.
"La noche" já tem uma história diferente. Estava em turnê, viajando de ônibus de uma cidade para outra, quando Max (Vianna, guitarrista e filho de Djavan) me mostrou a canção no computador. Fiquei encantando com a voz da cantora, uma espanhola chamada Montse Cortez. Pensei: “Nossa, quem dera gravar isso um dia”. Mas não imaginei que fosse acontecer de fato (risos).
— Um projeto como "Ária" vai influenciar seus futuros álbuns?
Djavan — Provavelmente sim, pois mantive contato de uma maneira muito íntima com o cancioneiro brasileiro, que é riquíssimo. Espero que isso me traga muita influência. Ao mesmo tempo, acho improvável fazer um outro disco como este (risos).
— De que forma você vai levá-lo para o palco?
Djavan — A turnê terá os mesmos músicos e os mesmos arranjos. Até houve uma certa discussão sobre os lugares mais viáveis para realizarmos estes shows, uma vez que quero manter esta turma e esta sonoridade. Cogitou-se fazer em teatros, mas disse que deveríamos investir mais no equipamento, para que se possa ter uma captação perfeita dos instrumentos acústicos. Assim, poderemos nos apresentar em qualquer lugar. Garanto que será tão bacana quanto no disco, terá a mesma pegada em qualquer ambiente.
— As músicas de sua autoria também serão rearranjadas?
Djavan — Isso é algo que já faço naturalmente. Antes do início de cada turnê, mexo em todas as canções. Agora, mais do que nunca. Tudo o que entrar, virá renovado.
— De que forma você toma conhecimento de novos artistas?
Djavan — Todos os caminhos são válidos para tomar conhecimento de quem está fazendo um trabalho bacana. Acho que a internet é uma boa maneira de ter acesso a esse tipo de informação.
— Enquanto músico e compositor, qual a sua relação com a internet e a música digital?
Djavan — A internet está disponibilizando não só música, mas muitas outras coisas, praticamente de maneira gratuita. Claro que o compositor e outros produtores da cadeia cultural de uma forma geral sofreram com isso. Ainda não temos uma lei que regulamente o direito autoral. Mas como esta é uma luta inglória, você tem que tirar proveito da situação. A internet é sem dúvida um veículo espetacular, mas tem que saber usar de forma que ela te traga uma compensação. A gente já faz isso de certa forma. Usamos a internet para pesquisa antes do início de um trabalho, por exemplo.
Hoje, o CD está muito desvalorizado por causa da internet, que apareceu e engoliu todas as possibilidades de cura da pirataria, por assim dizer. Mas ninguém tem ainda uma fórmula de compensar isso. Você pode até obter bons resultados com downloads legais, mas nada vai chegar perto da representatividade da indústria de anos atrás, com todas as garantias de direito autoral, vendagem de "copyrights" etc. Não existe mais essas coisas.
— Sente-se incomodado com o fato de pessoas baixarem canções suas de graça?
Djavan — Se pudesse evitar que isso acontecesse, eu o faria. Este disco, por exemplo: você gasta uma fortuna para que possa ser feito. Nada é gratuito. Mas esta é uma discussão que não me cabe mais. Acho que deveria haver uma legislação capaz de garantir minimamente nossos direitos. E esta é uma reclamação geral, não só da música.
— O publicitário Roberto Medina confirmou a realização da quarta edição do Rock in Rio no Brasil em 2011. Você gostaria de participar? Qual seria o formato da sua apresentação?
Djavan — Não pensei nisso ainda, mas seria bacana. Se fosse participar, faria este show. Tenho certeza de que funcionaria. Apresentado para um grande público, como provavelmente será o do festival, resultaria num ótimo espetáculo.
— E quem você gostaria de assistir?
Djavan — Gostaria de ver um artista como Chico Buarque, que o público não vê com freqüência. Seria algo bacana. Não sei se ele se interessaria muito, mas, se topasse, seria muito bonito. Entre as atrações internacionais... Sabe que eu estou com saudades do Prince? Faz tempo que não o vejo. É um artista fantástico. Gostaria de revê-lo neste festival.
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