Uma pizzaria onde
tudo pode ter começado
Por Victor Viana
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Praia da Armação - Fonte: Blog BossaBuzios |
Houve um tempo em
que Búzios ainda não era o que é hoje, era outra coisa ou muito do que viria a
ser. Entre tantas pessoas e estabelecimentos que não podem ser esquecidos (carregam
com sigo os elementos que constituem um pouco do que somos) está a Pizzaria do
Raul, mesmo Clemente ( Magalhães ) tendo afirmado que a fama não faz jus a
qualidade da pizza, " era muito ruim a pizza que serviam lá", disse.
Otavinho (O arquiteto Otavio Raja Gabaglia) afirma o contrário e faz uma
revelação: " A pizza era ótima, inclusive eu era o Pizzaiolo".
A historia oral (que agora ganha o devido registro) conta
que existia em Búzios, a cerca de 50 anos, o Armazém do Maia ( um Secos e Molhados,
como se dizia ) onde os buzianos e visitantes comiam o melhor PF (Prato Feito )
do mundo. Dizem que era servido de garoupa a lagosta,"eu era garoto e
comia sempre esse PF lá no Maia. Então um dia fui visitar minha avó, que tinha
entrado no convento, após o falecimento do meu avô, para ser freira carmelita
em Petrópolis e passei junto com um primo em um boteco e pedimos um Prato Feito, foi ai que descobri
que com garoupa e lagosta só em Búzios", conta Otavinho.
Mas vamos
a tal Pizzaria do Raul
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Praia da Armação, próximo ao Colégio Estadual João de Oliveira Botas. (Orla Bardot) - O srº é Luiz Aspino, (Luizinho), pai do Aristonil, Yola, Ilma, Wilma, Jarbas...! |
Morava em Búzios o Juca Melo Machado que arrendou o prédio
onde era o Armazém do Maia , ficava ali onde hoje é a entrada da Rua das
Pedras, e chamou o Raul Madeira de Lei
para ser seu sócio. Quem é o Raul? Quem o conheceu conta que Madeira de Lei era
mesmo seu sobrenome e que era um tipo fortão bronzeado, andava sempre de sunga
e tamanco de madeira. Era um boa praça. "Os dois me chamaram para fazer o
projeto da pizzaria. Eu fiz um projetinho simples como era Búzios naquele tempo",
nos conta mais uma vez Otavinho que também explica como se tornou o pizzaiolo
da casa: "O Juca
morava onde hoje é a casa da Abigail ( Vasthi Schilemm, artista plástica ) . Arrumou
com uns amigos lá em São Paulo e fui pra lá. Cheguei cedinho, aprendi a fazer
forno de pizza e a esticar a massa, essas coisas. Quando voltei sentamos o pau
na obra, todo mundo era duro, a gente não tinha grana, a verdade era essa. O Juca tinha um pouco mais
de dinheiro, mas não era tanto, e a obra não ficou pronta porque acabou o
dinheiro mesmo. O Juca, muito esperto me ofereceu 20% dos lucros, eu odeio sócio, mas eu não
tinha mais saída ele me devia uma grana. Inauguramos a obra e foi um sucesso
social na cidade".
Os remanescentes
desse tempo perdido de Búzios contam que havia dois pontos principais para se
tomar uma porre, durante o dia no
Restaurante do Pacato e a noite na Pizzaria do Raul, lá era o fervo. A fila
para entrar contam que era enorme. Todo mundo queria ir a pizzaria, até porque
não tinha muitos lugares para se ir naquele tempo em Búzios. Até a visita do
prefeito de Cabo Frio daquela época ( Búzios ainda não era emancipada), Antonio
Castro, a pizzaria recebeu, " Me lembro do Juca e o Raul fazendo uma
corrente na porta e nossas mulheres lavando o chão lá dentro, era um festa. Aquele
era um tempo muito bom, eu passava o dia de páreo, muito feliz e sempre bêbado",
conta com ar saudosista o arquiteto Otavinho, que também explica como funcionava sua "sociedade" na
Pizzaria do Raul: " Juca morava ao lado, próximo a pizzaria, passava na
minha casa e dizia: 'Otavinho, vai lá na minha casa', eu com o copo na mão
dizia que não ia. Mas então ele insistia e então eu ia de copo na mão mesmo.
Ele arrancava um bolo de dinheiro e me dava, 'esse aqui é os seus 20% (risos)',
e eu dizia: 'Mas agora? Eu não tenho bolso'. Então eu levantava o banco do
Gurgel, que na época já tinha capota, e guardava o dinheiro e continuava o
porre. Depois ele achou que eu estava ganhando muito e disse: 'Agora vai ganhar
só10%', eu disse que estava bom, fazer o que?
Um dia ele esqueceu do resto e o os 10% sumiram também, assim era a vida
em Búzios".
O sucesso da pizzaria foi tanto que o terceiro sócio, que dava nome ao
estabelecimento, ficou muito otimista a ponto de abrir uma cadeia de pizzarias
com o nome "Raul Madeira de Lei" no Rio de Janeiro. Como não entendia
nada de administração, era o sócio carismático apenas, faliu. Outro que lembra com saudade da pizzaria e
dessa Búzios antiga é o Zé Itajay, do Sushi Jardam, " O Raul era um cara trabalhador,
gente muito boa, conheci ele em Nova York. Mas da pizza não posso dizer nada
porque eu não como pizza, mas ele fazia
um peixe que era muito bom. Na verdade tudo era muito bom naquele tempo, hoje
Búzios é uma merda, cheia de pobre com cara de bunda e argentino mendigo",
contou.
Aproveitando a
oportunidade e perguntando se foi ai que começou a tradição gastronômica de
Búzios, Otavinho conta que anterior a Pizzaria do Raul existiu um pequeno
restaurante em uma casinha branca, feita por dois arquitetos que não
respeitavam o estilo Búzios que nascia, porem dizem que tinham bom gosto. O restaurante era administrado por um casal de franceses,
"a francesa era linda, marcou minha memória pela grandiosa beleza e por
faltar um dente em sua boca. Isso era
chocante pra mim", assim Otavinho finalizou
o papo sobre Búzios antiga.
Matéria
publicada originalmente em O Perú Molhado