10.9.13

O Finale ( um poema de amor ant-romântico, ou não )


 Parte de “O Verde Livro Tosco”


Você vinha
Como quem
Não vinha

Beijando-me
Sem boca
Alito, língua
Saliva

Tentei te abraçar
Mas era feita
De fumaça

Me senti
Romântico e bobo

Acho que sofri

Meu coração de pomba
Sacoleja solitário
No grande espaço
Da minha  caixa
                            Torácica

  
Não posso afirmar que houve-se um repúdio ao Romantismo, mas talvez um desinteresse consciente. Digo consciente, porque éramos todos ligados a Barra de São João, e na maioria crescemos em torno da estatua de Casimiro de Abreu que fica na praça que leva o nome de um de seus poemas “ As Primaveras”.  E por sermos muito jovens o Romantismo ( talvez nem tanto os poemas) chamava a atenção pela vida de busca por aventura, mistérios e amores....afinal esses poetas eram na maioria também adolescentes como nós.

Mas se gostávamos não expressávamos, e assim criticávamos. E virávamos as costas, não totalmente srrsrs.  Eu adorava escrever poemas como esse, onde brincava com o Romantismo.  É um desafio escrever em português sobre amor sem traços de romantismo, é quase uma vaidade.  Aqui é clara a influência de Drumond e sua poesia calcada no tédio da vida. A vida de um jovem na Região dos Lagos na quele tempo  ( ao menos a minha) era meio tediosa, um grande inverno sem grandes divertimentos, poucas mulheres disponíveis e uma sofrida espera pelo verão redentor que trazia mulheres em massa, na maioria superficiais, alem de apurrinhantes festas regadas a Axé Music e Funk Carioca.  Isso legitima o tédio amoroso desse poema.  As meninas que chegavam, e despertavam tanto furor juvenil no coração e no sangue, logo partiam para suas cidades, e ficamos nós tentando encontrar alguém que preenchesse o vazio grande de um peito com  um pequeno coração de pomba dentro. 

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