11.2.10

Protagonista de ‘Preciosa’ conta como fez de sua 1ª vez uma indicação ao Oscar





Gabourey Sidibe em Los Angeles:'Não tinha ideia de como era estar em cada cena', afirma.

Gabourey Sidibe tem 26 anos, estreou no cinema há um ano e já garantiu sua primeira indicação ao Oscar pelo papel principal em “Preciosa”. Baseado em livro da escritora e ativista negra Sapphire, o longa tem outras cinco indicações ao prêmio, incluindo melhor filme, roteiro adaptado e diretor, para o novato Lee Daniels.

No filme, que chega nesta sexta-feira (12) ao Brasil, Sidibe interpreta Claireece ‘Precious” Jones, uma adolescente sonhadora mas cuja realidade é retratada na pobreza e nos abusos da mãe (Mo’Nique, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante).





Pergunta - Como você se envolveu neste projeto?


Gabourey Sidibe - Eu nunca tive a intenção de ser atriz. Cheguei a fazer algumas peças de teatro na faculdade, mas certamente não estava interessada em seguir carreira. Estava na faculdade quando um amigo me falou sobre os testes. Eu sabia do filme porque minha mãe, há uns quatro anos, tinha participado dos testes para o papel da Mary [a mãe de Precious], mas ela desistiu do processo depois que leu o livro. Achou que seria muito dificil, afinal, ela é cantora e não atriz. Naquela época, ela achou que eu deveria interpretar a Precious, mas eu nem pensei no assunto. Quando meu amigo me avisou sobre os novos testes, não achei que seria uma boa. Era a primeira semana de aulas do semestre e isso desviaria minha atenção dos estudos.




Pergunta - O que lhe fez mudar de ideia?

Sidibe - Foi engraçado. Como num piloto automático, eu saí de casa e não sei por que acabei indo fazer os testes, embora eu tivesse uma aula naquela mesma hora. Não sei o que deu em mim. Simplesmente acabei indo lá. E depois de uma hora fui chamada para voltar para a próxima fase dos testes, que aconteceria no dia seguinte. E neste dia, meia hora depois de sair, me ligaram para dizer que o diretor, Lee Daniels, queria se encontrar comigo. No dia seguinte fui ao seu escritorio, e conversamos por uns 45 minutos. Falamos sobre tudo menos do filme (risos). Trocamos ideias sobre modelos de óculos, Lenny Kravitz e nada sobre o papel (risos). Até que ele disse: “bem, se você está na faculdade, como ficarão suas aulas se você fizer o filme?” Eu respondi que não é todo dia que alguém recebe uma oferta para participar de um filme, e que algo teria que ser sacrificado. Ele deve ter gostado da minha resposta e disse que queria que eu fizesse o filme. Para mim, aquele momento foi inacreditável.




Pergunta - Você não se preocupou com o fato de, mesmo sem experiência, ter de interpretar a protagonista do filme?



Sidibe – Nossa, fiquei superpreocupada. Não tinha ideia de como era fazer um filme ou estar em cada cena. Nunca havia estado em um set de filmagens. Eu estava muito ansiosa e preocupada se eu saberia fazer o que o diretor me pedisse. Mas tivemos muitas reuniões para desenvolver uma confiança mútua. No primeiro dia de filmagens, eu estava apavorada, não havia dormido quase nada, e tinha que estar lá às 5h da manhã. Quando cheguei ao estúdio, olhei ao meu redor e vi toda a equipe, que eram quase umas 200 pessoas, e nesse momento senti a responsabilidade. O salário delas dependia do filme ser realizado. Sabia que não tinha mais volta, que teria que assumir o desafio. A ansiedade se foi no segundo dia, e a partir daí não via a hora de chegar às filmagens.










Pergunta - Você se identificou com a personagem?


Sidibe – Infelizmente, a Precious era uma personagem familiar para mim. Eu reconhecia esta garota entre minhas amigas, familiares e pessoas com as quais eu não queria manter amizade. Eu também a reconhecia em mim mesma, mais jovem, quando tinha uns 16 anos. Ela não representava um conceito estranho, mas eu tinha um sentimento de culpa porque eu mesma havia ignorado ‘as Precious’ em tantas pessoas diferentes. Então, quando houve a oportunidade de interpretá-la, senti que era uma chance para me redimir. Adoro o livro e queria ser fiel ao texto e à personagem. Odeio quando as adaptações saem distorcidas. E tive muitas conversas com o diretor sobre quem Precious foi, é e será, que me ajudaram a moldá-la como um ser verdadeiro. Ele não queria que eu a interpretasse triste, pois ela não era uma pessoa triste. Você pode sentir pena dela como espectador, mas, na verdade, ela está simplesmente vivendo sua vida. Ela lida com vários desafios, mas para ela é somente mais um dia em sua vida cotidiana.




Pergunta - O filme lida com temas dificieis como incesto, abuso sexual e violêcia domestica, mas nã deixa de ter uma mensagem positiva e de esperança



Sidibe – Sim. E acho importante que vítimas de abuso assistam ao filme. São vários os temas, desde autoestima à sexualidade além das questões de abuso. Acho que são mensagens importantes. Incesto é um grande tabu porque as vítimas - e há muitas nessa situação - não falam sobre o assunto, talvez por vergonha. Mas espero que ao assistirem ao filme elas percebam que não estão sozinhas, que estas coisas também acontecem a outras pessoas e que elas devem procurar ajuda. Elas têm o poder de mudar o destino delas. Espero que o filme passe esperança a essas pessoas.

Pergunta - A experiência no filme influenciou o seu desejo de seguir a carreira de atriz?

Sidibe – Com certeza! Eu me apaixonei por essa carreira. É muito interessante dar vida às palavras de um roteiro e transformá-las em uma personagem. É fascinante. Gostaria muito de continuar atuando, de fazer uma comédia, ou comédia romântica. Talvez um filme de época. São vários estilos diferentes e eu gostaria de atuar em todos (risos). Eu terminei recentemente o meu segundo filme, “Yelling to the sky”, e foi uma experiência totalmente diferente de "Precious". Meu próximo projeto será o piloto de uma série para a Showtime. Espero continuar sendo atriz por um bom tempo!









Apesar da pouca experiência nas telas, a atriz de primeira viagem conta que Precious e os temas delicados abordados na história – incesto, estupro, violência doméstica, preconceito – não são coisas completamente novas para ela. “Infelizmente, a Precious era uma personagem familiar para mim. Eu reconhecia esta garota entre minhas amigas, familiares e pessoas com as quais eu não queria manter amizade. Eu também a reconhecia em mim mesma, mais jovem, quando tinha uns 16 anos”, disse Sidibe a jornalistas em Los Angeles, em entrevista da qual o curinga participou.“Acho importante que vítimas de abuso assistam ao filme para perceberem que não estão sozinhas. Elas têm o poder de mudar o seu destino. Espero que o filme passe esperança a estas pessoas.”

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