4.6.11

Mais uma historia sobre Brigitte: Por Ruy Castro




Para Brigitte, estava ótimo: o que ela menos queria era agitação, gente em volta, fotógrafos chatos. Era o alto verão e não se via um turista no horizonte. Os próprios jornalistas tinham se tornado uma abstração, e a presença de um fotógrafo no grupo, Denis Albanese, não a incomodava, porque era amigo de Bob (e seria o único a tirar fotos "autorizadas"). Pelos três meses seguintes (fins de janeiro, os meses de fevereiro e março inteiros e boa parte de abril de 1964), o sol de Búzios pertenceu a Brigitte Bardot. Ali ela encontrou o paraíso que já não podia desfrutar nem em Saint- Tropez. Ia à praia com um livro (O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, que estava lendo com certo atraso), cochilava na areia ou caía n'água (que ela depois classificaria de "um mar de champanhe azul"). Às vezes, passeava pelas proximidades, entre flamboyants e buganvílias, calçada de tamancos portugueses, de madeira, ou brincava com um gato, que chamou de Moumo1ime.
Andava a cavalo ou de charrete, ia de bote à Ilha Rasa e comia as pitangas que lhe eram colhidas por Geraldo, então com doze anos, filho do administrador do sítio de Muravief. Muitos anos depois, Geraldo contaria ao Peru Molhado ("o maior jornal de Búzios") que Brigitte fazia xixi no mato, ajudava a puxar as redes dos pescadores e sentava-se no armazém de seu tio Ceceu para cantar e tocar violão com eles. E que usava só "um vestidinho curtinho e nada de calcinha".


RUY CASTRO - A ONDA QUE SE ERGUEU NO MAR - Novos Mergulhos Na Bossa Nova - Cia das Letras 2001

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