Minha primeira colaboração ao Peru Molhado foi uma longa matéria louca sobre o pequeno Kiribat. Um pais ilha que estava prestes a sumir do mapa por conta do aquecimento global que ocasiona o aumento do nível do mar. Fiz na época uma comparação meio geográfica meio política comk Búzios, recebi elogios e muitas gozações .
A poesia ás vezes diz mais que análises e discursos. Em Haiti, Caetano e Gil opinaram e indagaram, mais indagaram que opinaram, sobre o Brasil. Pediram, clamaram como em uma súplica para que pensássemos no Haiti. Algumas pessoas me pediram que voltasse a falar - já fazem quase dois anos- do Kiribati, acho que se pode usar de rimas pobres para de alguma forma, sendo confuso e claro, juntar o ti do Haiti com o ti do Kiribati. Parafraseando os compositores baianos, me apoderando “antropofagicamente” da letra eis aí o Kiribati...
Kiribati
Quando você for convidado pra subir no alto
do rochedo do canto direito de Geribá. E ver o mar.
O mar de casas. Mar de casas.
E o não ver mais nada.
E quando você for até o canto esquerdo. Até o canto esquerdo,
que já foi azul e agora é preto.
Preto de esgoto, com espuma branca. Branca de esgoto,
que tem cheiro e gosto.
Cheiro de bueiro e gosto, gosto de medo.
Medo de leptospirose, ou qualquer doença de pele, que sob o sol se fere.
E toda ferida fede.
Pense no Kiribati, reze pelo Kiribati.
O Kiribati é aqui
O Kiribati não é aqui
Quando for ver um eco sistema frágil, de um município em formação: nos atrai, nos deslumbra e estimula. Porra nenhuma.Não importa nada, não interessa. Não interessa nada.
Só a grana, só o arame, só money, a bufunfa, o tutu, o cascalho.
Avistando a futura Tsunami de lixo de cima do terceiro andar de um sobrado revestido.
Revestido o concreto armado de madeira. Patinado, pra parecer antigo.
Mas quando for de carro até a ferradura. Constatar uma península sitiada, estuprada, degradada, arrebentada.
Pense no kiribati
Reze pelo Kiribati
O Kiribati não é aqui
O Kiribati é aqui.
Ou quando for vender foto de praia bonita parasuplemento de jornal, ou propaganda que reflita.
Nosso tal ar cosmopolita.
Ma que diante do mendigo na praça Santos Dumont,
ou perto dos excremento dos cachorros em uma praia azul, somos como qualquer periferia. São Gonçalo, Nova Iguaçu. Somos todos brasileiros, somos todos estrangeiros como no Kiribati ou aqui.
E se na Câmara você vir um vereador em pânico mal dissimulado,diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquerquestionamento sobre o plano diretor.Que pareça óbvio, que pareça certo.E vá representar uma ameaça de democratizaçãoda informação de que o recurso do petróleo não durará pra sempre.Nessa hora pense...
Quando você vir a menina uniformizada vendendo
passeio de barco ao lado da língua negra da praia da Armação.
Ou quando você sair para caminhar a beira do mar, e pensar: Que beleza de lugar!
Não seja babaca! Acreditando que Búzios é só isso. Sem ver que á apenas poucas luzes, ruas e pedras ele também é feito de Baía Formosa, Vila Verde, Rasa, Cem Braças e Capão. Mesmo que só vá até o pórtico sua visão...
Pense no Kiribati, reze pelo Kiribati
O Kiribati é aqui, o Kiribati não é aqui.
E quando você quiser ser inteligente sentado na mesa de um restaurante caro.
Ou um boteco barato.
Dando a sua opinião sobre a ocupação da A.P.A da azeda, do Breezes sobre dunas
(se é ruim ou não) ou sobre a importância ou não de Brigitte Bardot. Antes pense, reze e se lembre do Kiribati.
E quando for aceitar receber sem trabalhar em uma prefeitura ou em qualquer lugar.
E se politicar que todo turismo é turismo ou afirmar que dólar alto é bom ou que dólar alto é mal.
Ao filosofar sorrindo que todo dinheiro é bem vindo, e que não importa de onde veio, os fins justificam os meios. Lembre-se! Perca uns minutos pensando
no Kiribati, que não é aqui, que é aqui, que não é aqui, que é aqui, que não é aqui...
lembre-se do Kiribati pois em futuro próximo, mas tão próximo mesmo,
seu filho abrirá os livros de geografia
e na Oceania
o Atol que não estará ali, foi o Kiribati.
E não se assuste se no futuro só um pouquinho mais distante,
o mundo olhar o mapa do Rio, que no meio de Dezembro estará frio,
e não ver mais ilhas e nem istmo ou península.
Será difícil acreditar que um dia,
antes de todo tipo de abuso,
existiu Búzios.
Pois o Kiribati è aqui, não é aqui...
OBS: Nessa epoca era Toninho o prefeito da cidade, hoje é Mirinho... é isso ae.
Victor Viana @VianaBuzios
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