3.1.12

O Cristo sumiu! Ele não está nas igrejas. ( Quarto capitulo) uma novela de Victor Viana


O homem que estava atrás do guichê era o homem calvo que havia sido pego roubando comida e que Ieshua tinha defendido.  “ Veja o verme que você protegeu Ieshua!”, disse o operário que se revoltou com os descontos de seu salario. 


Em uma das igrejas o padre iniciou a missa para as meia dúzias de pessoas de sempre, idosos que nem tinham ficado sabendo  dos rumores  do sumiço do Cristo.  Na outra igreja a pastora elevou a voz em fez todos os gestos comuns ao culto de sempre, a igreja lotada, em tanta euforia e emoção que nem se deu falta de um Cristo; foi mais uma invenção da imprensa.  Nas igrejas lá do distante oriente os sacerdotes celebravam uns para os outros um intrincado ritual.


“ Se estamos insatisfeitos com nossos salários e se nos sentimos roubados; se não dão o valor a que merecemos...vamos então juntar nossas vozes para que se faça ser ouvida nossas reivindicações”  disse Ieshua aos vinte e tantos  operários reunidos na surdina .  “ Mas o que é a voz de 20 peões diante de uma multinacional?” retrucou o mais jovem do grupo, um menino magro de olhos sofridos.  Ieshua  abaixou a cabeça por alguns instantes e logo em seguida a elevou  com semblante serio.  Na outra semana estreava sua coluna no polêmico jornal “ O Galo encharcado” , odiado pelas igrejas e comunidades cristãs de toda Armação dos Búzios.  Ieshua abria o verbo contra os desmandos da South for Company .  A  empresa sem rosto logo emitiu uma nota fria informando a Ieshua que passasse no RH da companhia ; o levante de operários foi de uma proporção nunca vista por aquelas bandas.   Procurado por um grupo de ambientalistas Ieshua tomou conhecimento mais profundo das consequências que a obra do complexo de condomínios na reserva da praia do Forno estava causando ao ecossistema.  Ieshua voltou seu olhar e coração para a situação de corrupção na politica local que permitiu que um empreendimento como aquele fosse aprovado.   A greve dos operários foi marcada para a mesma data em que os ambientalistas invadiriam a sede da construção para forçar a parada das obras; eram duas classes lutando por coisas diferentes, mas Ieshua era o ponto que os unia através da fome por justiça.  As equipes de reportagem tomaram conta de Búzios e pela TV, Radio, Jornais e Internet o nome, o rosto e a voz de Ieshua chegavam a todos os cantos do mundo.  


As especulações de todos os tipos, e vindas muitas vezes de dentro das próprias igrejas, de que aquele rapaz era o Cristo que havia sumido dos templos das instituições religiosas,  se espalhavam e tornavam-se o assunto do povo e a esperanças de todos os estropiados do mundo.  Búzios em pouco tempo tornou-se uma Meca, e os pousadeiros e donos de restaurantes estavam felizes, mas havia discordância entre  alguns formadores de opinião locais se  o personagem Ieshua atraia um turismo de “qualidade” ou não.  Os representantes das igrejas reuniram-se as pressas; não podiam mais fingir que ele não estava fugido.

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