O homem que estava atrás do guichê era o homem calvo que
havia sido pego roubando comida e que Ieshua tinha defendido. “ Veja o verme que você protegeu Ieshua!”,
disse o operário que se revoltou com os descontos de seu salario.
Em uma das igrejas o padre iniciou a missa para as meia dúzias
de pessoas de sempre, idosos que nem tinham ficado sabendo dos rumores
do sumiço do Cristo. Na outra
igreja a pastora elevou a voz em fez todos os gestos comuns ao culto de sempre,
a igreja lotada, em tanta euforia e emoção que nem se deu falta de um Cristo;
foi mais uma invenção da imprensa. Nas
igrejas lá do distante oriente os sacerdotes celebravam uns para os outros um
intrincado ritual.
“ Se estamos insatisfeitos com nossos salários e se nos sentimos roubados; se não dão o valor a que merecemos...vamos então juntar nossas vozes para que se faça ser ouvida nossas reivindicações” disse Ieshua aos vinte e tantos operários reunidos na surdina . “ Mas o que é a voz de 20 peões diante de uma multinacional?” retrucou o mais jovem do grupo, um menino magro de olhos sofridos. Ieshua abaixou a cabeça por alguns instantes e logo em seguida a elevou com semblante serio. Na outra semana estreava sua coluna no polêmico jornal “ O Galo encharcado” , odiado pelas igrejas e comunidades cristãs de toda Armação dos Búzios. Ieshua abria o verbo contra os desmandos da South for Company . A empresa sem rosto logo emitiu uma nota fria informando a Ieshua que passasse no RH da companhia ; o levante de operários foi de uma proporção nunca vista por aquelas bandas. Procurado por um grupo de ambientalistas Ieshua tomou conhecimento mais profundo das consequências que a obra do complexo de condomínios na reserva da praia do Forno estava causando ao ecossistema. Ieshua voltou seu olhar e coração para a situação de corrupção na politica local que permitiu que um empreendimento como aquele fosse aprovado. A greve dos operários foi marcada para a mesma data em que os ambientalistas invadiriam a sede da construção para forçar a parada das obras; eram duas classes lutando por coisas diferentes, mas Ieshua era o ponto que os unia através da fome por justiça. As equipes de reportagem tomaram conta de Búzios e pela TV, Radio, Jornais e Internet o nome, o rosto e a voz de Ieshua chegavam a todos os cantos do mundo.
As especulações de todos os tipos, e vindas muitas vezes
de dentro das próprias igrejas, de que aquele rapaz era o Cristo que havia
sumido dos templos das instituições religiosas, se espalhavam e tornavam-se o assunto do povo e a esperanças de todos os
estropiados do mundo. Búzios em pouco
tempo tornou-se uma Meca, e os pousadeiros e donos de restaurantes estavam felizes,
mas havia discordância entre alguns
formadores de opinião locais se o personagem Ieshua atraia um turismo de “qualidade” ou não. Os representantes das igrejas reuniram-se as
pressas; não podiam mais fingir que ele não estava fugido.
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